Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação (fértil) da autora. Qualquer semelhança é mera coincidência. Eu garanto!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

CAPÍTULO 13


Muita informação! Não dormi direito e acordei com um pouco de enxaqueca.

Para completar, era o aniversário de Inácio. Conforme o combinado, eu só deveria ligar se fosse uma emergência. Contudo, aquela ocasião era especial. Seria muito estranho se eu não falasse com ele naquele dia.

        Eu ainda não telefonara nem uma vez para ele. Tivera dois impulsos quase irresistíveis, mas ambos aconteceram quando, pelo fuso horário da Itália, era o meio da madrugada, então consegui me controlar.

        Liguei para o apartamento de Enrico logo cedo. Suspeitava que Inácio não estava deixando o celular ligado. Para evitar contatos. Meus e da clínica.

       Dois toques depois, ele atendeu. Reconheci a voz grave e estremeci.

- Inácio!

- Oi, Tessa!

- Eu não podia deixar de falar com você hoje – fui logo me justificando.

- Não, claro que não – disse, compreensivo.

- Como você está? - não aguentei, eu precisava saber dele.

- Estou bem, e você?

- Estou indo – respondi, sincera.

       Um silêncio constrangedor se interpôs.

       Decidi interrompê-lo.

- Então... Queria te dar os parabéns!

- Obrigado, Tessa.

- 43, hein?!

- Pois é...

- Você não parece...

- Pareço, sim.

- Bem... Quais são seus planos para hoje à noite? – uma pergunta que era a cara do meu desespero.

- Sair para tomar umas cervejas com o Enrico.

- E quem mais? – desespero ao quadrado.

- Mais ninguém – ele respondeu, calmo.

       Parecia sincero.

- Inácio... Preciso te fazer uma pergunta. Tudo bem?

- Claro, Tessa.

- É sobre o sêmen que você congelou... Quem pode retirá-lo?

- Que pergunta estranha!

       Novidade! Sempre fui Tessa, a estranha.

- Apenas responda.

- Eu, naturalmente.

- Foi o que pensei.

- Por que, Tessa? Qual é a relevância disso?

- Mera curiosidade. Então... Tenha um ótimo dia! E uma ótima noite!

- Você também. Se cuida!

       Desliguei com o coração partido.

       Inácio ter me tratado cordialmente foi um alívio. Mas o alívio se tornou desagradável com aquele “se cuida” no final da conversa. Nada de “estou com saudades” ou “eu te amo”.

       “Se cuida”: O que aquilo significava? Por que Inácio foi tão seco comigo? Eu me tornei um estorvo, era isso? Ele descobriu um jeito melhor de viver, sem mim? Aquela despedida no aeroporto tinha sido mesmo a derradeira despedida?

       Era terrível saber tão pouco sobre o que estava se passando na mente dele.


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        Tive uma manhã péssima e, na hora do almoço, resolvi ir ao meu apartamento descansar um pouco. Estava sentindo ânsias de vômito.

        Entrar no apartamento e percorrer seus cômodos era encontrar a lembrança mais palpável de Inácio. Será que era isso que Iara pretendia manter com o filho: a lembrança palpável do marido, que só parcialmente se teria ausentado? Seria uma forma de negar a morte, ou de estender a vida?

        Deitei-me no sofá da sala e coloquei o protetor de olhos. Não fazia cinco minutos que estava ali, o telefone tocou. Eu deveria ter previsto aquilo. Era aniversário do Inácio, e os desavisados iam ligar. Eu não teria sossego.

- Alô!

- Boa tarde, eu gostaria de falar com o Dr. Inácio – uma voz feminina falou, educadamente.

- Quem está falando?

       Uma pausa discreta.

- Meu nome é Irene. Sou paciente dele.

        Pronto! Meu mundo desabou.

        Respirei fundo.

- Ele não está, Irene.

- É... Você é a esposa dele?

- Sim. Sou a Tessa.

- Oi, Tessa. Me desculpe pelo incômodo. Tentei falar no celular, mas estava desligado. No consultório, me disseram que o Dr. Inácio estava licenciado, mas não quiseram dar detalhes. Fiquei preocupada. Cheguei a pensar que, talvez, ele estivesse doente. Por isso, estou ligando para sua casa.

- Ele está bem. Não está doente. Só está viajando – respondi maquinalmente.

- Ah, que alívio! Bem, eu só queria parabenizá-lo pelo aniversário dele.

        Não consegui mais me conter. Aquilo estava teatral demais.

- Sei quem você é, Irene.

- Como?

- Inácio me mostrou as cartas.

- Ah... Sinto muito, Tessa. Não sei o que dizer...

- Que tal dizer a verdade?

- Que verdade?

- O que você quer com ele? Por que ligou?

- Eu só queria dar os parabéns...

- Resposta errada, Irene. Você pode fazer melhor que isso.

Ela permaneceu em silêncio por um tempo.

- Olha, Tessa, eu sinto muito mesmo.

- Não, não sente. Sei disso, porque li as cartas. O que eu quero saber é: você ainda está apaixonada por ele?

- Tessa...

- Você me deve essa resposta, Irene.

O prolongado silêncio foi a minha resposta.

- Eu estou me esforçando... – ela tentou justificar.

- Não está se esforçando o bastante – eu disse, com rispidez. Se ficar telefonando para ele, não vai passar.

- Eu sei... Tenho me controlado, mas hoje é o aniversário dele... Tudo bem, você está certa. É que nunca conheci um homem como ele.

Quase disse que provavelmente não teria outra chance. Homens como Inácio eram raros, e esposas inteligentes sabiam mantê-los. Acho que foi essa última parte que me impediu de completar a assertiva.

- O que você pretende afinal, Irene? – perguntei, num tom exaltado.

- Nada, eu juro.

- Então deixa o meu marido em paz.

- Eu vou deixar, prometo a você. Só preciso saber que ele está bem. Por favor, me diga a verdade. Sei do câncer, ele me contou...

- Ele está bem, apenas viajou – eu já estava impaciente.


Que legitimidade ela tinha para exigir aquelas informações?


- Está tudo bem com vocês?

       Meu Deus, ela não tinha desistido! Embora dissesse o contrário.

       Que ódio eu senti naquele momento. Tive que me controlar muito para não bater o telefone na cara dela.

- Não é problema seu, Irene.

- Sei disso. Me desculpe. Você vai dizer a ele que eu liguei?

- Não, não vou.

- Eu não sou uma pessoa má, Tessa.

- Nunca achei que fosse .

- Bem, então...era isso.

- Ok, Irene. Se cuida. E não liga mais para cá.

Joguei o “se cuida” de Inácio nela, sem dó nem piedade.

- Não vou ligar – ela garantiu, num tom derrotado.

Inacreditável!

Assim que desliguei, fiquei imaginando se deveria ter feito um escândalo, recriminando-a, exigindo saber de tudo. Quem ela pensava que era para ligar para minha casa e ficar perguntando sobre Inácio?

Contudo, eu não era assim. Era crítica e sarcástica, mas nunca fui barraqueira. E depois de tudo o que vinha passando nas últimas semanas, não sentia vontade nenhuma de brigar. Além disso, no fundo, eu sabia que não precisava me preocupar com ela. Inácio me deixara e isso não tinha nada a ver com Irene. Tinha a ver comigo.



O capítulo 14 será publicado na quarta-feira, dia 27 de novembro.
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Texto: Cynthia França
Revisão: Arilma Peixoto
Colaboração: Anita Lima, Licínio Porto, Lorena Porto, Lucíola Pereira

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